sábado, 27 de agosto de 2016

Assalto mascarado - Henry

Eu tinha que, ao menos, tirar essa dúvida da minha cabeça. Será que isso tinha a ver? Os negócios?

- Roberto Castelari.

- Oi, Roberto. É o Henry Pocci Stewart, como vai?

- Henry! Oh, céus, achei que fosse ligar! Acabei de ser informado. A moto e o carro do meu filho foram vistos com bandidos?!

- Roberto, preciso saber, você sabe do seu filho?

- Eu gostaria de poder dar boas notícias, Henry, mas eu não tenho uma boa convivência com ele. Não sei nem o que dizer. Ou fazer.

- Tem, ao menos, alguma ideia do por que dele ter pegado uma refém ou assaltado o shopping? Se era mesmo ele...

- Acho… - Roberto suspirou, pesaroso, do outro lado da linha. – Ele quer me atingir, suponho. Reduzi o limite do cartão de crédito que dei para ele e a mesada há duas semanas. Ele ficou furioso, mas você precisa concordar comigo que um rapaz de 24 anos não pode ficar desempregado, repetindo na faculdade e na farra mais. Achei que assim o obrigaria a arranjar um emprego. Ele foi avisado há mais de dois meses que eu faria isso caso ele não arranjasse um emprego. – Ele fez uma pausa. – Agora bandido? Não consigo acreditar que essa é uma possibilidade. Que ele é um suspeito.

- Não há a possibilidade de ele ser uma vítima junto com a minha filha? – Precisei colocar isso para fora. Que pai não pensaria assim?

- Já teriam ligado para pedir resgate. Tenho certeza disso.

- Você acha que essa é sua índole mesmo?

- Infelizmente, sim. Minha esposa sempre o mimou muito e ele sempre teve tudo que quis. Agora pago a consequência. E sozinho, ainda por cima, já que minha esposa faleceu há alguns anos.

- Sinto muito.

- Obrigado. – Ele suspirou. – Conte comigo. Vou fazer o que for preciso para que sua filha volte para casa, caso eu consiga entrar em contato com ele. – A tristeza da voz do meu amigo era tocante.

Desliguei o celular e encarei a tela de chamada. O que haveria de ser feito? Essa seria uma teimosia de um adulto mimado ou havia algo a mais?

Olhei para minha esposa, que sobrevivera a um sequestro relâmpago das mãos do mesmo grupo que agora tinha minha filha, agora sendo consolada pelo William, e não consegui ir até eles contar sobre a ligação. Ao invés disso, recebi uma chamada. Roberto Castelari apareceu na tela. Atendi.

- Alô?

- Henry, a escolha da sua filha foi aleatória. Ele não sabe quem ela é, e não contei. Para ele, ela é a “namoradinha de um policial”, como ele disse. Céus, preciso avisar a polícia.

- Espera! Volta. O que houve?

- Recebi uma ligação dele assim que desligamos. Ele está exigindo que eu deposite R$ 3 milhões e 500 mil na conta dele em troca de libertar a menina linda e inocente que está com eles. – Oi? Como é que é?

Enquanto eu ouvia isso, vários policiais entraram em suas viaturas e saíram disparados, com as sirenes ligadas, pelas ruas, inclusive o policial que entrou no shopping com a Stella, Matheus.

Meu filho se aproximou de mim e disse que acharam o local que os bandidos estavam. Precisavam chegar lá o mais rápido possível para surpreendê-los e conseguirem resgatar a Stella.

- Ouviu isso, Roberto?

- Ouvi. Vou desligar e ligar para informar o policial que falou comigo sobre as exigências do meu filho. É minha obrigação.

- Ok, se você diz... Tchau.


- Sim. Até mais.

sábado, 20 de agosto de 2016

Assalto mascarado - Eliza

- Stella! Não! – Por que levaram minha filha? – Precisamos voltar e falar com aqueles policiais.

- Como eles deixaram isso acontecer? – disse a mulher com o rabo de cavalo.

Voltamos à frente do shopping e logo vi meu marido e William, ambos descabelados e com alguns hematomas nos rostos e braços. Fui ao encontro deles sem parar para falar com ninguém.

- Ah, meu amor! Como você está? Cadê a Stella? Você levou um tapa…

- Henry, levaram a Stella. – Lágrimas rolaram por minhas bochechas. Eu estava nervosa. – Não sei por que… Não faz sentido!

- Mãe, bandidos não fazem sentido. Por que cargas d’água pegaram você, por exemplo?

- Will, ele disse algo sobre o “namoradinho policial”. Você sabe de algo?

- Que? – ambos perguntaram ao mesmo tempo.

- Vocês me ouviram.

- A Stella não namora, mãe. Ela mal sai de casa! Muito menos conhece um policial.

- Will, o policial que entrou com ela. – Os dois se entreolharam. – A Stella passou pela segurança e entrou no shopping determinada a te encontrar. Um policial entrou atrás dela, porém você sabe como é a sua filha. Cabeça dura. Ele não conseguiu tirá-la de lá.

- Acho que sei quem é. Vi um policial na vitrine falando com a Stella. – Olhei em volta. Eu tenho boa memória, quem sabe eu não conseguia identifica-lo?

Fiquei alguns segundos olhando, tentando puxar na memória a imagem do moço. Não precisei me esforçar muito. O rapaz em questão veio falar com meu marido.

- Senhor, me desculpe. Não consegui evitar que sua filha…

- A culpa não é sua. Acredite, ninguém impede Stella de fazer nada quando ela estabelece que fará. Sério, vocês podiam estar em uma meia dúzia ou ser o papa que não a parariam.

- Onde ela está?

- Ela foi pega pelo bandido que fugiu por último. Ele disse que o namoradinho policial dela não deixaria que atirassem nela.

- O que? Ela foi levada e a senhora não fala nada? – Ele apertou o walk talk de seu colete. – Uma refém está com os filhos da puta. – Disseram algo que não entendi e o policial respondeu: - É a Stella, a maluquinha que entrou no shopping para achar a mãe. A mãe dela está comigo agora.

Um paramédico veio ao meu encontro pedindo para deixa-lo cuidar dos meus hematomas. Eu sequer lembrava deles, preocupada demais com o fato da minha filha ter sido sequestrada, contudo eles doíam muito, portanto deixei que ele me levasse até a ambulância enquanto aquele policial conversava com o rádio.

Eu não quebrara nenhuma parte do meu corpo, mesmo depois daqueles tapas, algo que eu já imaginava, afinal eu não estaria aguentando de dor se fosse o caso.

- Mãe, acharam o esconderijo dos desgraçados que estão com a Stella. – William chegou perto de mim depois de um tempo. – A Stella levou consigo um desses dispositivos walk talk de policial e rastrearam o sinal dele.

- Ainda bem que ela ligou o aparelho, porque já estávamos sem opção de como acha-la. – falou o policial. – As fitas de vigilância da rua ainda não chegaram e quanto mais tempo esperássemos, menos chance teríamos. Preciso dizer que estou impressionado com a inteligência da sua filha. Ela já fez alguma luta ou aulas policiais?

- Não – William mesmo respondeu. – Ela só é inteligente mesmo.

- E assiste seriados policiais. Talvez isso tenha a ver. O que me deixa ainda mais preocupada. – Precisei complementar.

- Não pense isso. – Henry surgiu pela lateral da ambulância. – Ela não vai se achar espertinha. Ela terá paciência.

- Será?

- Ela não terá tempo para isso, senhora. Vamos salvá-la antes que ela perca a esperança de que isso aconteça.

- Matheus? – Ouvi sair do rádio do policial que estava ali conosco. Ele se endireitou, parecendo surpreso, assim como nós. Era a voz da Stella! Eu reconheceria em qualquer lugar. – Descobri como tirar aquele maldito “bip”… Canal dois. Matheus Carto. Por favor, me diz que acertei o ramal/canal ou sei lá da polícia. Câmbio.

- Essa… - Não tive a chance de terminar. O policial arrancou o walk talk da vestimenta e apertou o botão de resposta.

- Stella? – Ele falou, aos sussurros, assim como ela. – Stella, você está bem? Sabe onde está? Rastreamos o sinal desse rádio, vamos te resgatar!

- Ah, Matheus, graças a deus! – Minha filha não é religiosa. “Graças a deus” é só uma expressão de alívio para ela, mas não para mim. – Escuta, eu estou em algum barraco no meio da comunidade, mas tenho a impressão de que esses bandidos não são daqui. XVX-1570 é a placa da moto Yamaha que eu fui obrigada a subir. Descubra o dono. XVX-1570. Não responda nada agora, eles estão vindo. Câmbio.

O policial obedeceu. Eu só queria falar com ela, entretanto ele me garantiu ouvir barulhos de pessoas e não deixaria que ninguém tentasse se comunicar com ela para que não se metesse em mais encrenca. Os policiais precisaram mudar o canal de comunicação para não haver risco de falarem com ela. Essa era a melhor chance para a polícia. Não podiam arriscar perder o rastro dos bandidos.

Matheus levou a informação que Stella deu a quem poderia averiguar, sobre a moto. Não levaram muito tempo para obter um nome: Fábio Castelari. Filho de Roberto Castelari, um empreendedor rico que morava no Rio de Janeiro. Seu filho fazia faculdade aqui em São Paulo. Mesma idade de William. E ainda descobriram que o rapaz possuía um carro em seu nome. Um Ford Ka.

- Como? Um Ford Ka? – fechei os olhos com força e me concentrei. Os bandidos fugiram em um Ford Ka. Qual era a placa? Concentra, Eliza, que você lembra! (Essas minhas frases motivacionais…) – A placa começa com BDM…

- 3754. BDM-3754. Como sabe?

- Filho da puta! – Disse para mim mesma, mais alto do que deveria. – Desculpa, não é você, é que os bandidos fugiram em um Ford Ka. Só consigo me lembrar dessas letras da placa, mas não acho que outro Ford Ka tem essas mesmas iniciais.

- Stella tinha razão. Acho que sabemos quem um dos bandidos é. – Disse o policial. Enquanto isso, Henry cerrava os punhos e isso não era nada bom.

- Henry, amor – levantei da ambulância e o empurrei para longe das pessoas. Ele havia demonstrado uma reação estranha desde que ouvimos o nome Castelari. – Por acaso “Castelari” significa algo para você?

- Liz, não só significa, É ALGUMA COISA PARA MIM. A empresa de Roberto Castelari é uma das que faz negócio conosco! Com a distribuidora! Não é possível!

- Que? – William não ficara tão longe de nós quanto eu pensava. – Você está dizendo que o filho de um dos caras que tem contrato com a distribuidora é um dos principais suspeitos do sequestro da minha irmãzinha?

- Aconteceu algo entre vocês? – Interrompi-o. Eu entendi a indignação do William, porém seu tom sugeria uma certa ameaça, então me adiantei.

- Não! Nada! Eu… Eu não acho que o sequestro da Stella tenha a ver conosco, a empresa. Você não disse que ele falou do policial? – Henry direcionou a pergunta a mim e pensei um pouco sobre.

- Falou. É, parece que ela foi pega aleatoriamente, meio que de última hora pela maneira como o bandido agiu. – Era verdade. Ele estava praticamente partindo quando olhou para minha filha e teve a ideia de leva-la.

- Como podem dizer isso? – William não conseguia enxergar nosso ponto de vista. – E ainda assim, é o filho de um cara que você conhece.

Considerar isso era necessário e lógico. Henry se afastou de nós e ligou para esse tal de Roberto de prontidão e foi atendido com a mesma rapidez.