- Stella! Não! – Por que
levaram minha filha? – Precisamos voltar e falar com aqueles policiais.
- Como eles deixaram isso
acontecer? – disse a mulher com o rabo de cavalo.
Voltamos à frente do
shopping e logo vi meu marido e William, ambos descabelados e com alguns
hematomas nos rostos e braços. Fui ao encontro deles sem parar para falar com
ninguém.
- Ah, meu amor! Como você
está? Cadê a Stella? Você levou um tapa…
- Henry, levaram a Stella. –
Lágrimas rolaram por minhas bochechas. Eu estava nervosa. – Não sei por que…
Não faz sentido!
- Mãe, bandidos não fazem
sentido. Por que cargas d’água pegaram você, por exemplo?
- Will, ele disse algo sobre
o “namoradinho policial”. Você sabe de algo?
- Que? – ambos perguntaram
ao mesmo tempo.
- Vocês me ouviram.
- A Stella não namora, mãe.
Ela mal sai de casa! Muito menos conhece um policial.
- Will, o policial que
entrou com ela. – Os dois se entreolharam. – A Stella passou pela segurança e
entrou no shopping determinada a te encontrar. Um policial entrou atrás dela,
porém você sabe como é a sua filha. Cabeça dura. Ele não conseguiu tirá-la de
lá.
- Acho que sei quem é. Vi um
policial na vitrine falando com a Stella. – Olhei em volta. Eu tenho boa
memória, quem sabe eu não conseguia identifica-lo?
Fiquei alguns segundos
olhando, tentando puxar na memória a imagem do moço. Não precisei me esforçar
muito. O rapaz em questão veio falar com meu marido.
- Senhor, me desculpe. Não
consegui evitar que sua filha…
- A culpa não é sua.
Acredite, ninguém impede Stella de fazer nada quando ela estabelece que fará. Sério,
vocês podiam estar em uma meia dúzia ou ser o papa que não a parariam.
- Onde ela está?
- Ela foi pega pelo bandido
que fugiu por último. Ele disse que o namoradinho policial dela não deixaria
que atirassem nela.
- O que? Ela foi levada e a
senhora não fala nada? – Ele apertou o walk
talk de seu colete. – Uma refém está com os filhos da puta. – Disseram algo
que não entendi e o policial respondeu: - É a Stella, a maluquinha que entrou
no shopping para achar a mãe. A mãe dela está comigo agora.
Um paramédico veio ao meu
encontro pedindo para deixa-lo cuidar dos meus hematomas. Eu sequer lembrava
deles, preocupada demais com o fato da minha filha ter sido sequestrada, contudo
eles doíam muito, portanto deixei que ele me levasse até a ambulância enquanto
aquele policial conversava com o rádio.
Eu não quebrara nenhuma
parte do meu corpo, mesmo depois daqueles tapas, algo que eu já imaginava,
afinal eu não estaria aguentando de dor se fosse o caso.
- Mãe, acharam o esconderijo
dos desgraçados que estão com a Stella. – William chegou perto de mim depois de
um tempo. – A Stella levou consigo um desses dispositivos walk talk de policial e rastrearam o sinal dele.
- Ainda bem que ela ligou o
aparelho, porque já estávamos sem opção de como acha-la. – falou o policial. – As
fitas de vigilância da rua ainda não chegaram e quanto mais tempo esperássemos,
menos chance teríamos. Preciso dizer que estou impressionado com a inteligência
da sua filha. Ela já fez alguma luta ou aulas policiais?
- Não – William mesmo
respondeu. – Ela só é inteligente mesmo.
- E assiste seriados
policiais. Talvez isso tenha a ver. O que me deixa ainda mais preocupada. –
Precisei complementar.
- Não pense isso. – Henry
surgiu pela lateral da ambulância. – Ela não vai se achar espertinha. Ela terá
paciência.
- Será?
- Ela não terá tempo para
isso, senhora. Vamos salvá-la antes que ela perca a esperança de que isso
aconteça.
- Matheus? – Ouvi sair do
rádio do policial que estava ali conosco. Ele se endireitou, parecendo
surpreso, assim como nós. Era a voz da Stella! Eu reconheceria em qualquer
lugar. – Descobri como tirar aquele maldito “bip”… Canal dois. Matheus Carto.
Por favor, me diz que acertei o ramal/canal ou sei lá da polícia. Câmbio.
- Essa… - Não tive a chance
de terminar. O policial arrancou o walk
talk da vestimenta e apertou o botão de resposta.
- Stella? – Ele falou, aos
sussurros, assim como ela. – Stella, você está bem? Sabe onde está? Rastreamos
o sinal desse rádio, vamos te resgatar!
- Ah, Matheus, graças a
deus! – Minha filha não é religiosa. “Graças a deus” é só uma expressão de
alívio para ela, mas não para mim. – Escuta, eu estou em algum barraco no meio
da comunidade, mas tenho a impressão de que esses bandidos não são daqui.
XVX-1570 é a placa da moto Yamaha que eu fui obrigada a subir. Descubra o dono.
XVX-1570. Não responda nada agora, eles estão vindo. Câmbio.
O policial obedeceu. Eu só
queria falar com ela, entretanto ele me garantiu ouvir barulhos de pessoas e
não deixaria que ninguém tentasse se comunicar com ela para que não se metesse
em mais encrenca. Os policiais precisaram mudar o canal de comunicação para não
haver risco de falarem com ela. Essa era a melhor chance para a polícia. Não
podiam arriscar perder o rastro dos bandidos.
Matheus levou a informação
que Stella deu a quem poderia averiguar, sobre a moto. Não levaram muito tempo
para obter um nome: Fábio Castelari. Filho de Roberto Castelari, um
empreendedor rico que morava no Rio de Janeiro. Seu filho fazia faculdade aqui
em São Paulo. Mesma idade de William. E ainda descobriram que o rapaz possuía um
carro em seu nome. Um Ford Ka.
- Como? Um Ford Ka? – fechei
os olhos com força e me concentrei. Os bandidos fugiram em um Ford Ka. Qual era
a placa? Concentra, Eliza, que você lembra! (Essas minhas frases
motivacionais…) – A placa começa com BDM…
- 3754. BDM-3754. Como sabe?
- Filho da puta! – Disse
para mim mesma, mais alto do que deveria. – Desculpa, não é você, é que os
bandidos fugiram em um Ford Ka. Só consigo me lembrar dessas letras da placa,
mas não acho que outro Ford Ka tem essas mesmas iniciais.
- Stella tinha razão. Acho
que sabemos quem um dos bandidos é. – Disse o policial. Enquanto isso, Henry
cerrava os punhos e isso não era nada bom.
- Henry, amor – levantei da
ambulância e o empurrei para longe das pessoas. Ele havia demonstrado uma reação
estranha desde que ouvimos o nome Castelari. – Por acaso “Castelari” significa
algo para você?
- Liz, não só significa, É
ALGUMA COISA PARA MIM. A empresa de Roberto Castelari é uma das que faz negócio
conosco! Com a distribuidora! Não é possível!
- Que? – William não ficara
tão longe de nós quanto eu pensava. – Você está dizendo que o filho de um dos
caras que tem contrato com a distribuidora é um dos principais suspeitos do
sequestro da minha irmãzinha?
- Aconteceu algo entre
vocês? – Interrompi-o. Eu entendi a indignação do William, porém seu tom
sugeria uma certa ameaça, então me adiantei.
- Não! Nada! Eu… Eu não acho
que o sequestro da Stella tenha a ver conosco, a empresa. Você não disse que
ele falou do policial? – Henry direcionou a pergunta a mim e pensei um pouco
sobre.
- Falou. É, parece que ela
foi pega aleatoriamente, meio que de última hora pela maneira como o bandido
agiu. – Era verdade. Ele estava praticamente partindo quando olhou para minha
filha e teve a ideia de leva-la.
- Como podem dizer isso? –
William não conseguia enxergar nosso ponto de vista. – E ainda assim, é o filho
de um cara que você conhece.
Considerar isso era
necessário e lógico. Henry se afastou de nós e ligou para esse tal de Roberto
de prontidão e foi atendido com a mesma rapidez.
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