Eu tinha que, ao menos,
tirar essa dúvida da minha cabeça. Será que isso tinha a ver? Os negócios?
- Roberto Castelari.
- Oi, Roberto. É o Henry
Pocci Stewart, como vai?
- Henry! Oh, céus, achei que
fosse ligar! Acabei de ser informado. A moto e o carro do meu filho foram
vistos com bandidos?!
- Roberto, preciso saber,
você sabe do seu filho?
- Eu gostaria de poder dar
boas notícias, Henry, mas eu não tenho uma boa convivência com ele. Não sei nem
o que dizer. Ou fazer.
- Tem, ao menos, alguma
ideia do por que dele ter pegado uma refém ou assaltado o shopping? Se era
mesmo ele...
- Acho… - Roberto suspirou,
pesaroso, do outro lado da linha. – Ele quer me atingir, suponho. Reduzi o
limite do cartão de crédito que dei para ele e a mesada há duas semanas. Ele
ficou furioso, mas você precisa concordar comigo que um rapaz de 24 anos não
pode ficar desempregado, repetindo na faculdade e na farra mais. Achei que
assim o obrigaria a arranjar um emprego. Ele foi avisado há mais de dois meses
que eu faria isso caso ele não arranjasse um emprego. – Ele fez uma pausa. –
Agora bandido? Não consigo acreditar que essa é uma possibilidade. Que ele é um
suspeito.
- Não há a possibilidade de
ele ser uma vítima junto com a minha filha? – Precisei colocar isso para fora.
Que pai não pensaria assim?
- Já teriam ligado para
pedir resgate. Tenho certeza disso.
- Você acha que essa é sua
índole mesmo?
- Infelizmente, sim. Minha
esposa sempre o mimou muito e ele sempre teve tudo que quis. Agora pago a
consequência. E sozinho, ainda por cima, já que minha esposa faleceu há alguns
anos.
- Sinto muito.
- Obrigado. – Ele suspirou. –
Conte comigo. Vou fazer o que for preciso para que sua filha volte para casa,
caso eu consiga entrar em contato com ele. – A tristeza da voz do meu amigo era
tocante.
Desliguei o celular e
encarei a tela de chamada. O que haveria de ser feito? Essa seria uma teimosia
de um adulto mimado ou havia algo a mais?
Olhei para minha esposa, que
sobrevivera a um sequestro relâmpago das mãos do mesmo grupo que agora tinha
minha filha, agora sendo consolada pelo William, e não consegui ir até eles
contar sobre a ligação. Ao invés disso, recebi uma chamada. Roberto Castelari
apareceu na tela. Atendi.
- Alô?
- Henry, a escolha da sua
filha foi aleatória. Ele não sabe quem ela é, e não contei. Para ele, ela é a “namoradinha
de um policial”, como ele disse. Céus, preciso avisar a polícia.
- Espera! Volta. O que
houve?
- Recebi uma ligação dele
assim que desligamos. Ele está exigindo que eu deposite R$ 3 milhões e 500 mil
na conta dele em troca de libertar a menina linda e inocente que está com eles.
– Oi? Como é que é?
Enquanto eu ouvia isso,
vários policiais entraram em suas viaturas e saíram disparados, com as sirenes
ligadas, pelas ruas, inclusive o policial que entrou no shopping com a Stella, Matheus.
Meu filho se aproximou de
mim e disse que acharam o local que os bandidos estavam. Precisavam chegar lá o
mais rápido possível para surpreendê-los e conseguirem resgatar a Stella.
- Ouviu isso, Roberto?
- Ouvi. Vou desligar e ligar
para informar o policial que falou comigo sobre as exigências do meu filho. É
minha obrigação.
- Ok, se você diz... Tchau.
- Sim. Até mais.
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